28 de março de 2009

After the ground


Da névoa densa de um amanhecer pesado. O corpo pesado. Os membros... E o que era antes? Um vagar de pernas entre lençóis. Um vagar. A fumaça espessa do cigarro, o gosto captado pela língua. A saliva também espessa. E as pernas. "Ela é uma muralha". É toda nervos e sentidos. E pele. Extensão.Dos olhos me lembro pouco. Curiosos. O que ficou foi a pele. E o gosto do cigarro no escuro. Ela seria outra se não chegasse a tempo de me ver, no chão, rastejando? Quem ela seria? O que diria se chegasse antes e me conhecesse fraco, arredio, menino... Ela seria a mesma que é agora, longe, taciturna? Ela caminharia pela casa com seu passo de arrastar o mundo consigo, com perfumes, com mãos e pés de me torturar. O que ela diria? O que Dylan diria para ela?* E eu, por que silenciaria se a visse envolta na névoa de fumaça do cigarro, divina, etérea? O que posso dizer? Eu estava no chão. Ela chegou, me despiu, examinou meus olhos, meus cabelos. As fibras do meu corpo se arrefeceram. Ela secou os males e tirou as doenças. E o mundo, o chão, a fumaça do cigarro, tudo tomou outro sentido. Mas agora a vertigem.
Ela não seria a mesma. Ela não seria a música, a poesia, a onda. Ela seria o porquê, ela seria a pena, a falsa compaixão, a piedade. E ela teria nojo. E ela não me tocaria pra não se contaminar. E ela só seria.
"Ela é uma muralha". E as pernas e a pele e os seios e o sexo. E o amanhecer me fazendo notar tudo isso. E o cigarro no cinzeiro, esperando para retornar aos seus lábios em brasa.


*"No llores, mi querida
Dios nos vigila
Soon the horse will take us to Durango.
Agarrame, mi vida
Soon the desert will be gone
Soon you will be dancing the fandango."

(Bob Dylan & Jacques Levy - Romance in Durango, Desire - 75)

16 de março de 2009

(In) Submissão

A carne exposta.
A mesa posta:
Ferro.
Fogo.
Desejo.

O afago é breve -
Precede:
A mão,
A leveza,
O peso.

Desata as amarras do meu pudor
E deprava-me.
A seu dispor.

4 de março de 2009

Growing up

Você Menino:
me olhando de lado,
Querendo casar
Escrevendo canções que nunca jamais serão cantadas

Você Moço:
Me odiando
me deturpando
Fazendo justiça com as proprias mãos

Você Homem:
Ameno,
Sereno
me olhando nos olhos...
e ainda
Menino